sexta-feira, 30 de julho de 2010

Miniconto: Café da manhã II


O sol na cama a desperta. Não há vento. O silêncio é cortado pelo grito agudo das gaivotas. Olha a janela. A duna em ouro, o voo.
Na mesa o café da manhã frugal. Um zumbido a intriga. Percorre como o olhar o espaço. Nada. Cala o pensamento. Desliga o gás do fogão que ardia. Gosta do silêncio. O jornal sobre a mesa, o vazio.
O dia a aquece devagar. Sente prazer. Soube, ali, que poderá viver sem ele.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Microcontos: Twitter- Julho 2010

Penso: Basta! Chego em casa encontro um pacote. Dentro dizia: Lembrei de você. Título do livro: “Paixão-oãxiaP”. Devoro-o- o livro, claro.

Ouço passos, não me volto. Espero as mãos cobrirem meus seios, a respiração aquecer minha nuca fria. Aos poucos me viro- ávida.


Penso há dias em esquecê-lo. Intrigada entro na casa iluminada. Ele sorrindo, taça na mão: “Estou à sua espera, querida”. Sempre surpreende.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mini conto- arquivo: Um amor sem face




Esta semana não o entrou na internet, é a primeira vez que desaparece. Fica horas em frente da tela e nada.
Se correspondem há três anos. Logo notou que ele sabia escrever, gostava das palavras que usava. Acabaram amigos virtuais, amantes clandestinos.
Não sabe quase nada dele, apenas que é engenheiro, vive com dois filhos. Nunca falou da mulher, nem ela perguntou. Uma vez, ela disse: “Irei até ai estes dias, tenho que fazer uma compra”. Ele não manifestou desejo de vê-la, ela não disse nada.
Nunca se viram nem em foto. Algumas vezes teclam uns minutos e ele diz: "Preciso te ouvir hoje". Só ele telefona.
Está se mudando para perto dele, desta vez ele disse: "Quem sabe nos encontramos?". Ela tem calafrios só de pensar num encontro. Talvez fiquem assim, se amando de longe, um amor sem face.
Todas as semanas ela se arruma como se fosse encontrá-lo, não sai de casa, apenas o espera em frente à tela e pensa:
"Quem sabe ele não virá neste fim de semana?"
Espera que ele adivinhe o seu desejo.

Mini conto- arquivo: Um amor sem face




Esta semana não o entrou na internet, é a primeira vez que desaparece. Fica horas em frente da tela e nada.
Se correspondem há três anos. Logo notou que ele sabia escrever, gostava das palavras que usava. Acabaram amigos virtuais, amantes clandestinos.
Não sabe quase nada dele, apenas que é engenheiro, vive com dois filhos. Nunca falou da mulher, nem ela perguntou. Uma vez, ela disse: “Irei até ai estes dias, tenho que fazer uma compra”. Ele não manifestou desejo de vê-la, ela não disse nada.
Nunca se viram nem em foto. Algumas vezes teclam uns minutos e ele diz: "Preciso te ouvir hoje". Só ele telefona.
Está se mudando para perto dele, desta vez ele disse: "Quem sabe nos encontramos?". Ela tem calafrios só de pensar num encontro. Talvez fiquem assim, se amando de longe, um amor sem face.
Todas as semanas ela se arruma como se fosse encontrá-lo, não sai de casa, apenas o espera em frente à tela e pensa:
"Quem sabe ele não virá neste fim de semana?"
Espera que ele adivinhe o seu desejo.

sábado, 10 de julho de 2010

Mini conto- Sábado à noite

Ele riu quando ela disse para o garçom: Para mim, um Martini com gelo e cereja. Só bebe whisky caubói. Sente prazer ao frisar: sem gelo, por favor. No caminho para casa, ela é seu apoio - as pernas trôpegas, a fala exaltada. Na cama, ela se entrega sem desejo, quer dormir antes do amanhecer, que se anuncia. Exausto, ele cai para o lado. O quarto rescende a álcool.

Ela se levanta, vai ao banheiro, come uma maçã e deita- se de costas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Microconto: Olhos de amêndoas doces


A voz dele a acordou. Levantou, ajeitou o cabelo.
O ruído da janela trouxe o seu olhar doce.
Não disseram nada. Não precisava.
Sabia que teriam um bom dia.

sábado, 3 de julho de 2010

Miniconto- arquivo: Pele de seda






Pele de seda



A pele macia no banho a fez desejar que as mãos dele a tocassem. "Pele de seda", ele dizia. Depois se amavam ainda molhados até o quarto escurecer. Então, ele se levantava, tomava banho. Ela, na cama, à espera do beijo de despedida, enrolava-se no lençol para levá-lo até a porta.
Voltava para a cama, mal comia.
Permanecia assim dias- em estado de graça. Depois vinha a ausência e ia murchando.
Não se queixava, sabia de cor as regras. Desejava apenas amá-lo mais uma vez, quem sabe mais outra, até desistir de viver.

Seria fácil desistir.