sexta-feira, 30 de abril de 2010

Miniconto- arquivo- O telefonema


Michal Zaborowski



O telefonema


O telefone soa e quebra o silêncio de dias.
Choveu sem parar, chuva fina com vento frio. Nem jornal foi comprar, ficou só com a TV e o cachorro. Quanto mais fica só, mais quer ficar.
"Quem seria no telefone?" pensou. Quase não atendeu.
- João, é João. Não me reconhece mais?
Levou uns segundos para lembrar da voz.
Soube sobre sua mãe, quis saber como aconteceu. Ela contou, mas não se comoveu como sempre.
- Sabe que gosto de você...
- Mas casou com outras, não comigo.
- Você não me quis...
Mentira, ela pensou:
- Você estava envolvido com outra mulher.
- Nem me lembre, vivi um inferno.
(...)
- Você está casado?
- Vivo com alguém.
- Com aquela com quem te vi na última vez?
- Não.
Quando desligou ficou no sofá uns minutos. Ele esteve na cidade e não veio vê-la.
- Não deu tempo, foi só um dia, eu dependia de outros, ele repetiu, duas vezes.
Mentira, se desejasse, viria.
Talvez minta para si.
Desta vez não chorou.

domingo, 25 de abril de 2010

Mini conto do desafio do conto


A bela e o escritor


Ele, muito mais velho do que ela, encantou-se. Via elegância em todos os seus gestos. Casaram. O homem passava o dia a escrever, ela a ver revistas de moda. Ele lhe dizia: Deste livro, vais gostar. Deixando o objeto na mesinha ao seu lado. Antes de se voltar, beijava a nuca perfumada da mulher- sempre impecável. Depois leio, ela respondia.
O livro permanecia ali, intocável. Uma pilha se fazia. Os melhores livros para leitores jovens, ele pensava.
Um dia precisou sair. Ela disse: Vou aproveitar para ler hoje. Ficarei no seu escritório. Ele saiu saltitante. Finalmente ela entraria para o seu mundo.
Voltou na hora combinada, teriam um jantar. Ela estava no escritório. A luz acessa o conduziu animado. Bela, como sempre, com uma bomba na mão ela borrifava veneno na sua coleção predileta.


PS: Este continho é a resposta ao desafio do blog Com imagens com verso. Há uma imagem, você faz um conto, uma frase... Fiz este- foi divertido,porque a foto... ulalá.

sábado, 17 de abril de 2010

Mini conto X- Tudo lhe escapa


Tudo lhe escapa

A mão adormecida a despertou. Olha a janela- amanhece. Nada a fazer tão cedo.
Tenta dormir de novo, a fome não deixa. Lembra dele. Poderia voltar a dormir e sonhar. Não, não quer sonhar. Levanta, abre a janela e deixa o sol incipiente tomar conta da cama. Vai se movendo, acompanhando o feixe de luz. Primeiro nas costas, depois nas pernas. Abre-se, facilitando a entrega, deixa que o sol a tome.
O pensamento fugidio escapa para coisas banais- o que há na geladeira, as compras a fazer...
O corpo esfria. O sol se foi.
Ela se levanta, dá água para os gatos, coloca a água para o café- tem fome.

Mini conto- arquivo- Enrosco






Enrosco


Sente a mão que toca seu colo, finge dormir. Ele vai deslizando, toca sua mama, o mamilo enrijece. Não dá para fingir sono, geme dengosa. Ele vem e a beija. Ela enrosca as pernas nas dele, prende-o com força, ele finge querer sair mordiscando sua nuca. Ela o solta num movimento brusco. Seguem, agora, num só compasso.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Mini conto - arquivo- As pedrinhas transparentes




As pedrinhas transparentes



Aos domingos, na praia, catava pedrinhas, escolhia as transparentes. Gosta de transparências.

Um dia um homem se abaixou e lhe ofereceu uma pedrinha. Seguiram juntos catando pedrinhas. Acompanhou-a até sua porta, despediu-se com um ‘até domingo’. Ela sentiu algo diferente. Há muito não tinha contato com homens.

Esperou ansiosa o domingo. Saiu antes da hora de sempre, da calçada viu o homem à beira mar. Foi em sua direção, tímida.
Ele sorriu e seguiram caminhando pela areia. Falavam pouco, ela desacostumada de falar, ele só dizia o essencial.

No terceiro domingo, ele entrou em sua casa. Ela havia preparado a casa, sabia o que ele viria.
Se amaram ali na sala, no chão sobre a colcha que cobria o sofá. Ela desejou aquele homem em sua vida.
Enquanto ele se vestia, pegou um copo de conhaque, que o ex- marido usava, colocou as mais belas pedrinhas dentro, sobre as pedrinhas um caramujo. Ele não disse obrigado, apenas olhou com olhos de surpresa.
Quando se despediram, ele disse: “Até mais”. Não sabia o que ele queria dizer, mas não perguntou. Intuiu algo. Sentiu-se estranha, talvez não devesse ter dado as pedrinhas. Mas, e se ele voltasse mais tarde? Era domingo, poderiam sair.
Nada sabia dele.

No domingo seguinte ele não estava na praia. Pensou tantas coisas: poderia estar viajando, doente, viria mais tarde... Ele não veio. Esperou até o sol se pôr e sentir frio.

Os domingos passaram a ser vazios, já não o buscava mais entre outros rostos.
Não se importa mais com as pedrinhas, às vezes vê uma que gosta muito, pega, olha na palma da mão, e a devolve para o mar.

Mini conto - arquivo- No bar

No bar


A mão dela deslizou na minha perna, senti um calafrio na espinha.
Deixei que subisse até a virilha, desejava que me tocasse mais, me apertasse naquela mão pequena.
Meu sexo parecia estourar a calça. Então, lentamente, ela abriu o fecho e colocou meu pênis para fora apertando-o contra meu corpo.
Um calor me inundou, precisava fazer algo. Finalmente consegui sussurrar: "Por favor, vamos sair daqui”.
Ela me ignorou, fingia não ouvir, ou não ouvia tal a concentração.

De repente, levantou-se, deu um tchau geral e saiu sem olhar para mim.
No bar



A mão dela deslizou na minha perna, senti um calafrio na espinha.

Deixei que subisse até a virilha, desejava que me tocasse mais, me apertasse naquela mão pequena.

Meu sexo parecia estourar a calça. Então, lentamente, ela abriu o fecho e colocou meu pênis para fora apertando-o contra meu corpo.

Um calor me inundou, precisava fazer algo. Finalmente consegui sussurrar: "Por favor, vamos sair daqui”.

Ela me ignorou, fingia não ouvir ou não ouvia tal a concentração.

De repente, levantou-se, deu um tchau geral e saiu sem olhar para mim.

Mini conto - arquivo

No bar


A mão dela deslizou na minha perna, senti um calafrio na espinha.
Deixei que subisse até a virilha, desejava que me tocasse mais, me apertasse naquela mão pequena.
Meu sexo parecia estourar a calça. Então, lentamente, ela abriu o fecho e colocou meu pênis para fora apertando-o contra meu corpo.
Um calor me inundou, precisava fazer algo. Finalmente consegui sussurrar: "Por favor, vamos sair daqui”.
Ela me ignorou, fingia não ouvir ou não ouvia tal a concentração.
De repente, levantou-se, deu um tchau geral e saiu sem olhar para mim.

Mini conto - arquivo- Desconserto

Desconserto


Não contenho o sorriso, é inevitável. Não nego o prazer em vê-la assim perdida, não diria desesperada, apenas perdida.
Ela tão cheia de certezas...
Vejo aqueles olhos nos meus, esfomeados, querendo me decifrar, percebo seu desconserto.
Ela sabe, é meu o próximo passo. Espera.
Eu a farei sorrir, não sobrevivo sem este sorriso, ela não sabe, apenas intui.