quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Belinha e o sargento

Belinha era solteira e de bela não tinha nada, não que fosse feia- era sem graça- pequenina, cabelos armados em excesso pelos cachos negros, um buço que teimava em não tirar. A mãe um dia foi uma mulher bonita, ainda guarda traços no rosto que lembram a jovem que fora- um nariz reto e arrebitado, olhos muito negros e grandes, andar elegante, coisa que Belinha não tem.
Conheceu o Sargento no Coral da Igreja, ele nordestino e galante, tem uma postura firme que o torna atraente, másculo, faz sucesso com as mulheres. Assim que o viu Belinha passou a ter sonhos eróticos que a faziam corar. Ele percebeu que a perturbava, gostava disto, gostava de vê-la por perto, frescor e sexo à flor da pele.
Chamou-a para conhecer sua casa, foi com a mãe, eram inseparáveis. A casa simples, casa de homem sozinho, precisava de cuidados, logo as duas assumiram a arrumação, todos os sábados enquanto a filha cuidava dos quartos a mãe lavava a roupa e cozinhava. Belinha acabava rápido a lida doméstica e se deitava na rede com o Sargento, aproveitando que a mãe estava ocupada nas panelas, ele tomava a mão de Belinha, colocava no seu sexo rijo- ela estava ali a espera desde que chegou-e coordenava os movimentos, apertava aquela mão pequenina no pênis grande e duro, ela gemia de desejo, contorcia-se na rede.
Um dia o telefone tocou, ele rapidamente foi para fora de casa falar, Belinha o seguiu, pé ante pé, e ouviu que falava com uma mulher com intimidade. Descobriu ali que ele tinha mulher e filhos distantes. Ofendida Belinha conta aos prantos para a mãe, nunca mais quer vê-lo, diz soluçando. A mãe argumenta:
- É homem, macho, são todos iguais, vai acabar velha e sozinha como eu, ele precisa de uma mulher que cuide dele. Belinha chora todos os dias ao lembrar do sonho perdido da noite de núpcias quando perderia sua virgindade, mas não cede, tinha brio, estava ofendida. Sábado acordou mais tarde, na mesa um bilhete da mãe:
“Fui lavar as roupas do Sargento, tem comida no fogão”.

domingo, 11 de setembro de 2011

Miniconto 01- arquivo- A viagem


 




Ele chegou com uma surpresa- uma passagem para Nova York. Como estava sobrecarregado de trabalho, ela iria com a amiga.
Telefonou para dizer que chegou bem, não o encontrou, mais duas tentativas. Nada.
Desistiu. A amiga solícita passou a fornecer os comprimidos para dormir- não poderia estragar a viagem.
De volta, fingiu estar tudo bem. Ele em casa, o vinho francês de sempre, o silêncio conhecido.
Maria, a empregada de anos lhe diz: ”Dona Silvia, desculpe lhe dizer, mas o doutor não esteve aqui nem um dos dias em que a Senhora esteve fora”.
Um dia a loja de importados entrega os vinhos e um champanhe. Fica feliz. Quem sabe ele estaria diferente hoje? Ao ler a nota lê:
“Duas garrafas de champanhe”.
Ele ousa: “Levei a outra garrafa para festejar os gols no clube”.
Noutro dia o telefone toca, uma voz feminina, a amante antiga do marido:
- “Você está com ele, mas é a mim que ele ama, sua vaca”.
Fechou a casa, abriu o gás e colocou a cabeça dentro do forno.
Ele não precisaria mais mentir, nem ela fingir.




De 05/06/05

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Desejo- Miniconto




Quando cheguei com as flores ela me recebeu com um beijo e um:
- Obrigada, querido.
Sumiu, voltou com a jarra de vidro e margaridas brancas.
Na rua, com as flores na mão, me senti nu, depois desconfortável no meio da sala, foi a primeira vez que subi.
Ela veio em minha direção alegrinha, me beijou e me apertou contra ela.
Quando a vejo assim, leve, meu lado taciturno sobressai. Silencio.
Ela disse:
- O que foi?
- Nada, não foi nada, respondi sem convencê-la.
Puxou-me para o quarto. Mandou que me despisse e deitasse. Obedeci em silêncio. Continuou vestida. Eu nu.
Ajoelhou-se aos meus pés e os massageou. Meus pés doem ao serem tocados. Ela estalou cada dedo, dizendo baixinho:
- Se solte, vamos, se solte.
Então, me alisou com aquelas mãos pequeninas, apertou alguns pontos sensíveis- sempre muito compenetrada.
Quando me viu entregue, despiu-se olhando desafiadoramente nos meus olhos. E veio felina, deslizando a partir dos meus pés esfregando seu corpo leve no meu até alcançar o que desejava.
Ai, sorriu e me beijou vorazmente. 
Montou até a exaustão.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Miniconto: Tolinha- Revisto



- Vindo para cá, agora, eu vi quando ele atravessou a rua. Do meio fio acompanhei seus passos rápidos. Uma garoa fina e fria caia umedecendo meus cabelos. Vi quando parou e voltou, deve ter esquecido algo. Muitas vezes ele volta para pegar algo. É distraído. Vive escrevendo, mesmo sem papel. Ele refez o caminho. Imaginei que poderia me ver do outro lado da rua, fui para perto das lojas. Não queria que me visse despenteada. Sabe que em algumas vezes penso em como sou fútil. Como pode alguém ser fútil e densa? Eu sou. Idiossincrasia. É isto? "Não me importa seu cabelo, amo você", ele diria. Mas não quero ser vista com o cabelo feio. "Mulheres são tão tolas...", ele diz. A tolinha quer sempre estar bonita para ele. Quando ele vier, à noite, eu estarei pronta. Bela e pronta para amar. Doutor, eu não contarei a ele que o vi. É feio isto, não é? Eu acho. Queria ser diferente, mas não consigo...