segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A flor- Miniconto











A flor


O sol a pino aquecia o pátio onde eles se protegiam na estreita sombra. Amontoavam-se recostados na parede encardida. Alguns jogados no chão, alheios. Talvez não sentissem o queimar.
Os homens, com canecas nas mãos, batiam ruidosos no portão de ferro, que se abriria em alguns minutos. Era hora do almoço.
A alegria do primeiro emprego desapareceu ao cruzar a porta para os alojamentos, que recendiam à urina.
Uma mulher lhe sorria sentada perto da entrada. Vigiava a passagem. Esperaria alguém? Boca desdentada, faces rubras, boca carmim borrada. Uma flor murcha caía de sua orelha esquerda. Retribuiu o sorriso.
No carro, de volta, chorou. Não sabe se por eles ou por ela.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Miniconto: A mulher de preto



Ainda atordoado com as palmas saí para o saguão. Pedi um táxi, não gosto de dirigir à noite. Ao afundar no banco de trás, exausto e feliz, me vem a imagem da mulher de preto sentada na primeira fila. Já a vi em algum lugar, o cansaço não me ajuda a lembrar. Talvez um rosto conhecido. Das três perguntas que me fizeram, a última foi dela, perguntou algo sobre amor.
Na cama, após alguns minutos deitado, revejo seus traços, agora sim, sei quem é. Mas como? Está longe! Seria mesmo ela? Como soube da palestra? Por que não veio até mim?
No dia seguinte os e-mails retornam, uma mensagem automática diz que ela está viajando e volta só daqui a um mês.
Sinto-me estranho.

PS: Conto postado em 2006, aqui.