quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Miniconto: Na suíte

Suíte I


Ficou encantada ao ver-se no espelho com o vestido da patroa.
Dançou pela suíte, rodopiou.
Com a tesoura fez pequenos cortes nas roupas penduradas.
Ao bater a porta sabia que não haveria retorno.


A cela é fria, úmida, tem cheiro acre. O corpo está impregnado. As paredes narram histórias. É preciso contar os dias, não se perder, rezar- rezar para limpar a alma e esquecer.

É a primeira vez que fica só, vivia cercada no barraco. O marido sempre grudado, aquele pau duro nas coxas, na bunda, buscando caminho. Livrou-se da força daquelas mãos puxando-a, torcendo seus braços que amanheciam roxos.
Agora descobre um corpo que não conhecia, sem desejo, sem ódio.
Quando sair dali estará livre para viver.

Um dia, sabia, o mataria, fingiria gozar, quando ele estivesse de costas enfiaria uma faca com força em suas costas.
Desta vez teria o prazer de ver os seus olhos suplicarem.


PS: Ainda vou mexer neste conto, nunca acabam...

Publicado antes em 24/10/10

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Poeminha despretensioso- A dor maior











A dor maior
Amordaçada
Fala
No corpo
No coração

No indecifrável

sábado, 18 de outubro de 2014

Um dia arco-íris



Foto minha



Amanheci arco-íris,
Anoiteci lua em taça.
O meio?
Pleno.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Miniconto- A parede



Há três dias, ele não telefona. Ligo, a secretária eletrônica atende.
É insuportável. Não é a primeira vez que faz isto. Todas as vezes que o confronto é assim. Prometo, para mim mesma, que será a última.
Na primeira vez, me exasperei. Ele me disse: "Você me encosta contra a parede, viro parede". Nunca mais ousei confrontá-lo.
Não me pergunte porque o aguardo em silêncio.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Ausência- poeminha despretensioso




Um cão late
Aves em algazarra
Farfalhar de folhas
Tic tac

Nada quebra o silêncio

Uma criança chora
Janelas trepidam
O vento assobia

Nada quebra o silêncio

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

À sete chaves



Te guardo
À sete chaves
Prenda
Afeto maduro
 Desejo contido


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Miniconto- Na pia









Sente quando ele se aproxima por trás. Finge não perceber, continua lavando a louça.

A mão a toca. Ela não se vira, deixa que ele a boline.

Neste dia quebrou apenas um prato.

Saiu dali e foi passar a roupa da patroa antes que ela chegasse.