Dia de chumbo
Cansada de escrever, fui até a janela olhar a rua. Uma chuva fina caía no dia cinzento. Há dias o céu está como chumbo.
Queria um dia de sol tépido- não suportaria o sol escaldante do verão. Ouviria pássaros. Invejo as aves, parecem volúveis.
A rua, quase deserta, me dá sensação estranha, lembra ficção científica. Onde estarão todos? É domingo.
Eu o vejo surgir no meu espaço visual. Está com um suéter amarelo, comprado numa das viagens.
Espero que olhe para cima com o coração disparado. Ele não olha, entra na livraria em frente ao meu prédio. Penso descer, forçar um encontro. Mas se não der tempo? Teria que me vestir, estou com roupa de dormir. Não sei vestir um casaco e sair. Decido esperar, olhos fixos na porta da loja.
Ele sai, traz agora um pacote nas mãos, tem um meio sorriso nos lábios, com certeza foi algo que disse para a moça do balcão que o fez sorrir. Tenho inveja da moça do balcão. Uma tristeza maior me abate. Será que não lembrará de mim?
Abro a janela, quero ficar mais visível. Segundos depois, ele me vê. Ele não sorri. Dá apenas um adeus.
Volto e me jogo no sofá chorando. O telefone toca. É ele. Diz: “Venha ver os livros que comprei, um deles é para você.”