sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Miniconto: A mulher que não dançava



Chamou-a para dançar, não quis.
Acordou de madrugada com ele beijando-a. Cheirava a bebida e cigarros. Queria continuar dormindo. As mãos ágeis dele subiam pelas suas pernas abrindo caminho. Beijou seu ventre enquanto as mãos teciam carinhos íntimos.
Ela não queria acordar, desejava acabar logo com aquilo. Sabia o quanto ele se orgulhava com seu gozo. Ele a cobriu com seu corpo forte, penetrando o sexo morno. Ela receptiva, facilitava os movimentos, colaborava. Fingiu gozar. Queria voltar a dormir.
Ele fingia estar tudo bem, ela fingia gostar. Logo voltou a dormir.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Miniconto: O homem menos estranho

O homem menos estranho


Pega o primeiro ônibus que para no ponto, o vento corta seus lábios. Há dias não vê a rua, não quer.

O ônibus está abafado, gosta daquele cheiro, tanto tempo não vê gente. Havia lugares vazios nos últimos bancos, escolhe o que tem o homem menos estranho e senta perna encostada na perna do homem, nem viu a cara, não importa. A perna revestida de seda dá a sensação de segunda pele, desliza, sente prazer em roçar disfarçadamente no estranho. Fecha os olhos, inspira o ar. Final do dia, cada cheiro uma história, de olhos fechados adivinha que o homem ao lado tem mulher e filhos à espera.

Faz isto sempre, pega um ônibus qualquer. Escolhe os dias cinzentos, aqueles que intui não suportará ficar tão só. Estar colada ao homem a esquenta, ele não se afasta, pressiona mais a coxa - coxa apertada contra coxa. Finge não sentir a mão que sobe pela sua perna, deixa que o homem a toque, se arrepia, não consegue se mexer, é preciso dizer não. Abre os olhos, ele se aproxima e a beija violentamente, morde, machuca. Ela não sente prazer ou medo, apenas vida.