O homem menos estranho
Pega o primeiro ônibus que para no ponto, o vento corta seus lábios. Há dias não vê a rua, não quer.
O ônibus está abafado, gosta daquele cheiro, tanto tempo não vê gente. Havia lugares vazios nos últimos bancos, escolhe o que tem o homem menos estranho e senta perna encostada na perna do homem, nem viu a cara, não importa. A perna revestida de seda dá a sensação de segunda pele, desliza, sente prazer em roçar disfarçadamente no estranho. Fecha os olhos, inspira o ar. Final do dia, cada cheiro uma história, de olhos fechados adivinha que o homem ao lado tem mulher e filhos à espera.
Faz isto sempre, pega um ônibus qualquer. Escolhe os dias cinzentos, aqueles que intui não suportará ficar tão só. Estar colada ao homem a esquenta, ele não se afasta, pressiona mais a coxa - coxa apertada contra coxa. Finge não sentir a mão que sobe pela sua perna, deixa que o homem a toque, se arrepia, não consegue se mexer, é preciso dizer não. Abre os olhos, ele se aproxima e a beija violentamente, morde, machuca. Ela não sente prazer ou medo, apenas vida.
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4 comentários:
Adorei o conto. Suas palavras tem o tom certo para nos deixar presos a elas..
Parabéns (:
Irei acompanhar as atualizações .
Obrigada, fico feliz, moça. Abs, Laura
ótimo! roçar de pernas no homem menos estranho ao lado é (quase) sempre excitante!
Belíssimo texto. Muito bem escrito. Não tem nada sobrando ou faltando. E ainda dá aquele ar de solidão que, ao final, é desfeito.
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