Foto André Paiva
Não sabe o porquê da inquietude. A mãe dizia: “Esta é lenta, não queria nem nascer. Anda Inês!”. Odeia o nome. “Pior se fosse Sebastiana”, retrucava a mãe. Nasceu no dia da mártir, um dia depois do dia do santo.
Quase menina, foi trabalhar no corte da cana. Lá conheceu Sebastião- ironia- gostou do nome. Ele era pouco mais velho e tinha olhos cor de amêndoas. Encabulou-se no primeiro encontro- ele a despiu com o olhar. Voltou para casa coberta de fuligem e atordoada. Mirou-se no espelho sobre a pia da cozinha. Tirou-o da parede, tentou ver o resto do corpo- “mais ossos que carne”, pensou.
Os irmãos brincavam no terreiro. No banho tocou o sexo. Apressada esfregou-se até um arrepio. Sabia que agora era mulher- os olhos dele o disseram.
...
Anoitece. Observa a duna- lembra da areia morna, a perna úmida de sêmen, o corpo de Sebastião sobre o dela. Tenta enxergar mais longe. Não, ele não virá. Melhor entrar e fazer a janta para os netos.
5 comentários:
Oi,
Passa no meu blog, por favor, quero saber se tenho vocação para o ofício de escritor.
Abraço forte,
Gustavo
Gostei das imagens suscitadas.
Interessante como a narrativa nos envolve nos ambientes criados sem recorrer a adjetivos.
Compraz-me essa escrita, de semiótica austera, rica de conteúdo.
Bom conto! A narrativa é envolvente e, o desfecho, surpreendente. Não imaginei que fosse terminar desse jeito.
Parabéns. =D
Que sorte ter aparecido pelo meu blog. Como disse lá, de outra forma não teria reencontrado estes seus textos que, tendo-os achado por acaso, não sabia onde estavam
Postar um comentário