domingo, 16 de junho de 2013

Manhã- miniconto



Olha o céu chumbo. Não venta. Mormaço.
Estica com as mãos as roupas recém penduradas. Pássaros voam grunhindo.  
Na cozinha, desliga o fogão- o arroz cozinhará sozinho- tem receio de esquecer a chama acesa.
Atravessa a sala, observando coisas fora do lugar.
Varre a varanda. Molha as plantas. A água da mangueira respinga nas pernas e vestido. Enrola a bainha molhada e prende no elástico da calcinha. Joga água nos pés descalços.  
Olha em torno- não há ninguém.
Sente frio, despe-se e entra no chuveiro quente. Lava com prazer os cabelos.
A chuva nas janelas a faz lembrar da roupa estendida. Corre, enrolada na toalha, para o quintal.
Puxa com força as roupas quase secas. Grampos alçam voo.
Sente frio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo! A imagem dos grampos saltando pelo ar me tocou. Por que será? Os algozes que mantinham prisioneiras as roupas, de repente alçam vôo. Talvez isso: a liberdade.
Cristina