sábado, 20 de março de 2010

Mini conto 05- arquivo





O casal estrangeiro



Vieram do estrangeiro, se amavam, havia um elo forte- fizeram a mesma faculdade, tinham os mesmos amigos, três filhos e uma espécie de exílio voluntário.

Aos poucos ele foi se tornando quieto, irritado, nada do que dizia o interessava- o silêncio era cortante. Com os filhos o mesmo, não tolerava barulho, brincadeiras, erros- um dia bateu descontrolado na filha menor porque quebrou um objeto nada valioso. Ela sentiu ali que algo se rompera entre eles, não era mais o mesmo homem com quem casara.

Abriu um mercadinho, apesar do título de doutor, precisavam sobreviver enquanto o diploma não era revalidado. Dias difíceis vieram, ele não suportava o comércio nem a gente simples que atendia- foi saindo aos poucos. Ela, exausta, dava conta de tudo sem se queixar. Tudo era bem-vindo, tudo estava como deveria ser.

Na cama, o esperava perfumada, camisola limpa, leve. Sentia-se bela. Mas nada. Ele a ignorava com enfado, dormia pesado. No dia seguinte a mesma irritação.

Um dia, veio um amigo num belo carro buscá-lo. Voltou animado, de bom humor. Veio outras vezes, sempre muito gentil, foi conquistando a todos- menos ela.

Ele mudou-se para a casa da praia, não ficava longe, seria melhor para trabalhar , continuaria a obra inacabada. Ela, com sempre, achou uma boa idéia, foi ajudar na mudança, gostou da casa personalizada.
Ela ficou com as crianças, nos fins de semana iam ficar com o pai. Algumas vezes, ele viajava com o amigo- passear por ai. Ela não fazia isto há anos, mas não se importava, queria que ele estivesse bem.

Foi ficando cada dia mais evidente a forte relação entre os dois homens, não dava mais para negar- confessou estar apaixonado. Não ficou com raiva, nem ciúmes- se tivesse sido outra mulher não suportaria: o que ela tem que eu não tenho?
Mas não, sentiu alívio. Agora ela entendeu tudo.

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