sábado, 19 de março de 2011

Amanhã, quando você chegar...



Rio, junho de 1984


Meu amor, você chega amanhã. Deve estar exausto, ansioso pelo voo, mas feliz, e eu aqui a contar os minutos.

Ficar sem saber de você tanto tempo me deixa enlouquecida. Escrevo para não me perder naquela fala vazia quando estiver à minha frente. Você ri, eu sei, mas eu sofro com esta minha incerteza. Não ria, amor.

À medida que o tempo passa sem você eu vou desbotando. Ontem estive no sol por uma hora, me sinto feia sem cor, você sabe. O teu silêncio me faz imaginar, por alguns segundos terríveis, que encontrou outra mulher. Ela tem mãos delicadas como as minhas, mas mãos lindas, de jovem. Imagino que ela sorri para você, leviana, eu nem sei se consigo ser leviana. Seria? Eu sou profunda.

“É isto que amo em você”. Teria que ouvir agora. Preciso ouvir agora.

Estou chorando, sei que sou uma tola: “Tolinha”.

Você diria que sou leve. A minha leveza é por temer desejar algo com ardor e não alcançar. Tudo fica no ar. Tenho medo de me agarrar a algo e sucumbir. Aprendi a ficar assim, leve, navego na superfície, não saberia mais remar contra a correnteza. Eu cansei de viver na contra mão- você sabe.

E se você não chegar amanhã?

Minha cabeça dói há dias. Deve ser esta luta interna para me manter lúcida. Agora estou sorrindo. Sou tão lúcida, não é? Pois é... Somos tão lúcidos. Por que fico tão enlouquecida?

Chega. Já estou melhor.

Amanhã, quando a porta abrir e você entrar, eu estarei leve e feliz, é isto que importa.

Um beijo da sua, Laura.

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