sábado, 16 de abril de 2011

Fala vazia

Na hora marcada dei dois toques na porta e abri. Estava sentado numa poltrona bege, me olhou meio de lado, olhos curiosos, leve sorriso- eu já conhecia este sorriso. Os olhos rápidos me desnudaram em segundos, fiquei paralisada com a mão na maçaneta da porta. Esperei que dissesse: ”Entre”.
Vestia camisa azul, os cabelos mais brancos. Era a primeira vez que me via. Levantou, me deu dois beijinhos atrapalhados na face, e indicou-me a outra poltrona onde sentei. O envelope que eu trazia caiu, nos abaixamos juntos para pegar.
Eu disse: ”Trouxe para você, espero que goste”.
- “É muito bom o seu traço, obrigado. Como foi a viagem?”
Desandei a falar, queria preencher este espaço de tempo, nós dois sabíamos o que viria depois.
Eu falava, ele parecia não ouvir, olhava meu rosto, minha boca, os olhos desenhavam meus traços. Eu não conseguia me concentrar no seu rosto, tão confusa me sentia. Percebeu que me perdia e sorriu da minha fala vazia.
Levantou-se, parou à minha frente, estendeu as mãos e disse:
- Levante-se.
Obedeci.

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