sexta-feira, 8 de abril de 2011

Holofotes





Naquela tarde havia um movimento diferente no portão. De longe notou que eram da imprensa. Não sentiu medo, nem susto, apenas surpresa.
Cumprimentou um estranho que fumava na varanda e foi entrando na casa, tão conhecida, como uma intrusa. Ele estava no escritório, sob holofotes. Um repórter o entrevistava. Esgueirou-se entre fios, recostando-se na parede lateral. Mal o via. Ouviu quando disse que lançaria em breve um livro, uma novela, um diretor amigo encomendara. Será filmada no próximo ano, disse.
Suas palavras a atingiram como lanças.
Por que não lhe contou? "Ficarei em silêncio estes dias, não estranhe". Como sempre, não o questionara.
Quanto dela estaria no livro? Sentiu um calafrio.
Não esperou a entrevista acabar. Anoitecia, a casa estava escura, acendeu apenas o abajur da sala. Parou na porta, olhou a sala, pousou os olhos em cada objeto, tudo ali tinha uma história. Pegou um ex-voto, guardou no bolso- ele saberia que foi ela quem levou.
Despediu-se de Zampanô, o vira latas, que a acompanhou até o portão. Sentiria sua falta.

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