quinta-feira, 30 de junho de 2011

Miniconto: O miolo- sem revisão

O miolo de pão


Observava as mãos dela. Soltava com cuidado a xícara no pires e enrolava o miolo do pão. Todos os dias o mesmo movimento. Lembro do início, eu me continha para não pedir para que parasse. Em alguns dias, mais irritado, dizia: “Por favor, pare de fazer estas bolinhas! Lembra minha mãe.”. Ela me olhava enviesado e parava. No dia seguinte, recomeçava. Às vezes, compro pão de forma, digo que não encontrei pão fresco no caminho. Minto. Sei que não terei que assisti-la transformando migalhas em bolinhas.
Hoje não ouvi os passos no corredor. Eu acordava sempre antes, fazia o café. Na cozinha eu aguardava os ruídos dela: a água da torneira da pia, os passos lentos se aproximando.
Há silêncio hoje. Ouço minha mordida no pão, o gole do café. Ela não virá mais. Começo a enrolar o miolo do pão e choro.

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