segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O casal

O casal

Os feirantes desmontavam as barracas, conversando alto. Ela vinha andando pelo meio das frutas, ouvindo as piadas, algumas para ela. Fingia não ouvir. Já havia comprado o que precisava, queria sair logo dali. O sol encoberto por uma nuvem densa. Do chão, úmido e quente, vinha cheiro de frutas maduras. Hora do almoço. Sentia fome. Escolheu um vaso de azaléias na banca de flores da esquina. Olhou para o meio da praça e o viu. Cumprimentava uma mulher: deu um beijo, tocou seu braço, depois enlaçou-a e seguiram em direção oposta. Seu coração saltou. "Parecem íntimos, vão almoçar juntos, com certeza". Parou com o vaso na mão. Ela, magrinha, pernas finas, vestia saia e blusa, elegante e discreta. Verde, a blusa – ela não usaria verde nunca. Ele, como sempre, de azul. Depois que os perdeu de vista, voltou a caminhar olhando para o chão. Desejou chorar. Entrou na Vila e veio o frescor da sombra, o cheiro de comida vindo dos vizinhos, os ruídos. Viu seu gato à porta. Entrou, largou as compras na pia, colocou água nas azaléias, lavou um pêssego e pensou que não há coisa melhor do que estar em casa e comer uma fruta fresca. Ele diria, se pudesse, que esta é a realidade.
A ela, resta sonhar.

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